quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Crônicas Eleitorais 1

Época de eleições, eis que surge um antigo problema: em quem vou votar? Dos candidatos a prefeito de Fortaleza, não vejo propostas que me afetem diretamente (para o bem ou para o mal). Pelo contrario, fico com a impressão de que temos um povo que quer do governo uma Mãe, dando casa comida e roupa lavada.
As propostas (ou promessas) são sobre saúde e habitação – gratuitas. Eu pago IPTU, taxa de iluminação pública (cobrada no boleto da Coelce, mas repassada a Prefeitura) e ainda tenho que pagar (caro) pelas duas coisas: um plano de saúde privado, que conta com espera de horas nas emergências, dias para marcar uma consulta e médicos, para dizer o mínimo, desmotivados; e pago um financiamento da Caixa de quase 20 anos por um apartamento onde uma porta só abre se a outra estiver fechada.
Por outro lado, algum dia no horário político assisti na TV a história de certa “comunidade”. Há alguns anos eles invadiram um matagal às margens de um rio – que se frise o termo: ‘invadiram’ - dito com naturalidade pela serena voz do narrador. Por muito tempo conviveram com lixo e falta de saneamento básico, além da distância até um posto de saúde; hoje, foram transferidos para um conjunto habitacional da prefeitura, com água, luz, esgoto, rua pavimentada, linha de ônibus, blá blá blá.. Que história feliz, não? Não! Eles invadiram o matagal, ninguém os convidou, muito menos obrigou a morar lá. Por anos, conviveram com o lixo e esgoto que eles mesmos produziram (meu esgoto vai para o sistema da Cagece, por isso pago a conta em dobro; o lixo é recolhido pela Ecofor, que já cobrou taxa cara para isso...). Além do mais, essa comunidade vivia na informalidade, não pagava IPTU, nem outras taxas e impostos. Por escolha própria moravam em barracos mal feitos, sem infra-estrutura, e ainda davam entrevistas dizendo “aqui a gente num temo nada”, mas na época de chuva e alagamentos diziam “nós perdeu tudo!” E repito, por escolha própria, pois não creio que surgiram lá por abiogênese.
Sei que meu discurso não é politicamente correto (posso ser morto por um comunista subversivo - Uhu!); mas também não é de todo egoísta. Apenas quero chegar a um ponto de equilíbrio na justiça dessa questão, mesmo levando em conta as oportunidades de cada grupo. Se eu fosse egoísta, votaria de olhos fechados em Adahil Barreto, pois é o único com propostas inteligentes sobre transito. Afinal, como já disse nesse blog, passo mais de duas horas por dia no carro e, além do estresse e do combustível (que ao contrário da passagem de ônibus não pára de subir de preço) todo ano tenho enorme prejuízo com suspensão e pneus graças à superfície lunar de nossas ruas, sem contar com o inevitável surgimento do som de Timbalada no rodar do meu carrinho ainda alienado à BV financeira.
O único tema certo que poderia nos aproximar de um equilíbrio é o menos citado, o menos discutido, e o menos prometido: Educação Básica. Caberia à prefeitura (e também ao estado, conforme lei) a responsabilidade de garantir Ensino Fundamental de qualidade, sem aprovações automáticas e analfabetismo na “nona série” (no meu tempo ainda não tinha essa...). E não só ensinar essas decorebagens de matemática, história comunista alienada, química e biologia; ensinar cidadania, ética, educação ambiental, convivência com trânsito, oratória, coisas que realmente mudam a qualificação da pessoa – ou alguém acha que o sujeito com nota 10 em física é “melhor” que o que tirou 7,5?
As pessoas carentes, com menos oportunidades merecem, sim, saúde e habitação gratuitas. Mas somente como cidadãos educados eles darão o devido valor a assistência recebida, retribuindo com esmero para um verdadeiro – e não demagógico – crescimento na qualidade de vida dos eleitores da cidade.