Eis aí um tema interessante. Tão na moda, já virou mesmo um clichê; mas ainda assim, o contato com culturas diversas traz novas opiniões, diferentes pontos de vista e um grande aprendizado – até mesmo sobre nossa própria cultura.
Outro domingo tive a oportunidade de ir à praia com um bem humorado sujeito chamado Irwan (leia-se Irruán), um indonésio, engenheiro de telecomunicações, que veio parar em Fortaleza como funcionário da Nokia, uma empresa Finlandesa que presta serviços à Claro, brasileira filiada à mexicana Telmex. Confuso? Não, globalizado.
Primeiramente, ele me reclamou o fato de não ter encontrado por aqui nenhuma mesquita; como bom muçulmano, Irwan (que em nada lembra um árabe) gostaria de um local adequado para praticar suas orações. Infelizmente, não pude ajudá-lo; até onde sei, não há mesmo nenhuma mesquita em Fortaleza. É estranho como no Brasil, um país legalmente laico, sejam tão pouco significativas as religiões não cristãs, e tão esmagadora a presença da Igreja Católica.
Mas isso não foi grande problema. Irwan estava feliz numa praia do Brasil. E, como bom turista, queria provar e comprar de tudo. Chato mesmo foi para mim, que tive de bancar o intérprete. A falta de paciência me fez indagar: o Inglês não é lá uma língua difícil – nem muito cara – de se aprender; em Fortaleza, uma ‘cidade turística’, isso bem poderia ser incentivado, quem sabe bancado pela prefeitura. Mas pra quê? Dinheiro público é para gastar com festa; comunicação entre vendedor e turista deixa com a mímica e o enrolês mesmo; se dá certo assim, então tá bom...
Já cansado de comer camarões e caranguejos (esses deram muito trabalho), nosso ilustre estrangeiro resolveu conversar um pouco sobre os mais diversos assuntos. Por sua formação, acabou falando em eletrônica, e me perguntou por que aqui todos os equipamentos desse tipo são tão caros. Falei que muitos são importados e, mesmo sobre os fabricados aqui, são cobrados impostos elevados. Ele então me perguntou: “e vocês não reclamam?”. Um pouco desconfortável, respondi que sim; mas confessei que não era o bastante. Ele, com um grande sorriso, falou: “deve ser porque vocês têm carnaval e todas essas lindas praias... não podem mesmo reclamar de nada!” Não pude esconder minha frustração diante da triste verdade; mas, como eu já disse, globalização traz novas opiniões, diferentes pontos de vista e um grande aprendizado – até mesmo sobre nossa própria cultura.