terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Evite Aborrecimentos

“Uso exclusivo do condomínio. Evite aborrecimentos.” Estes são os dizeres, em letras garrafais, existentes no portão de um prédio que freqüento. Para completar, existe pintado no asfalto um enorme retângulo amarelo com um X no meio. Qualquer pessoa habilitada a dirigir um automóvel (responsabilidade esta um tanto subestimada) deveria ser capaz de compreender toda esta sinalização: não pare na passagem dos veículos. Infelizmente, o problema não é compreender (ninguém pode ser tão burro), mas respeitar (sim, as pessoas são muito mal educadas); conseqüência: ninguém respeita esse sinal. Rotineiramente, chego ou saio deste prédio, e lá está um jovem, ou um senhor, ou uma mãe, em seus carros caros e empacados no meio da passagem. E com a torpe justificativa: “é só um minutinho”. E quando um minutinho dura uns cinco minutos, você se aborrece, dá sinal de luz, buzina, e a pessoa no carro sai dali com a cara mais feia do mundo, enraivecida, pensando: mas que sujeitinho apressado; que estresse! É interessante como funciona o dia a dia do trânsito, o julgamento egoísta que os motoristas fazem sobre o que é certo ou errado quando estão trancados em seus carros (o pequeno império, a fortaleza móvel de cada um que se sente rei atrás do volante). É muito simples: eu estou certo. Ponto. Os outros estão errados. Há um exemplo clássico: num cruzamento, a direita é livre, mas há um sinal para quem vai para a esquerda. Com o sinal, forma-se uma fila e, eu, melhor do que os outros, não posso esperar na fila! Sigo pela direita, onde o tráfego flui, e lá no cruzamento eu paro e espero o sinal abrir. E os trinta carros atrás de mim que querem ir para a direita? Esperem! Se eles buzinam, que povo estressado... Chato é quando você percebe que a falta de respeito e de civilidade, não é fruto da falta de acesso à educação. Basta ver as faixas amarelas que indicam onde formar uma fila para os caixas do banco. Tudo bem que muitas agências são freqüentadas por pessoas humildes, analfabetas, inocentes de sua ignorância. Mas vá à agência do Banco do Brasil dentro do Campus do Pici, da UFC; lá estão os futuros profissionais graduados, os mestres e até os doutores, numa enorme bagunça onde não se sabe onde é o começo nem o fim. Hoje pela manhã fui abastecer meu carro. Quem anda com GNV sabe o que encontra em todos os postos: fila. Lá estava eu, aguardando minha vez. O carro na minha frente já próximo de ir embora, chega uma Blazer do meu lado – passando também os que estavam atrás de mim – apontando a frente para o carro que ia sair. Irritei-me, de fato. Quando o outro saiu, avancei para seu lugar, antes que a tal Blazer pudesse ir. Depois que desliguei o carro e saí do veículo (como manda o protocolo que quase ninguém segue) vem o cara da Blazer – um senhor, bem aparentado – com uma sorriso amarelo e uma pergunta: - Precisava dessa agressividade? Respondi de imediato: - Sim, porque sou estressado; porque espero minha vez na fila, e não no meio do posto, com uma blazer enorme, impedindo a passagem de quem quer usar as bombas de álcool, ou gasolina, ou simplesmente já abastecerem e querem ir embora. O sujeito se calou e seguiu até uma bomba que ficou livre, alguns segundos depois. Uma pena. Pois foi nesse momento que cheguei a uma incrível conclusão, e não tive oportunidade de agradecer. Ele tinha acabado de me mostrar o jeito mais certo, menos estressante de fazer as coisas: não espere na fila, não respeite o sinal, não procure uma vaga que não esteja na frente do portão. Evite aborrecimentos. Cague pro mundo e não se aborreça.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Osmose Reversa

Hoje fui visitar um laboratório da Universidade federal do Ceará que pesquisa um sistema dessanilizador de água por osmose reversa alimentado a energia solar. Interessante? Apenas parcialmente; pois fiquei sabendo também que, pelo menos na UFC, os tais dessanilizadores a osmose reversa já são mencionados em pesquisas há mais de dez anos e, ainda assim, não existe tecnologia nacional de produzir estes equipamentos bastante simples. Basicamente, consiste de duas câmaras com água separadas por uma membrana semipermeável, ou seja, que permite a passagem de água e não permite a passagem de sais; assim, a água potável é forçada a passar através da membrana para uma das câmaras enquanto água com alta concentração de sais é retida na outra câmara, algo como um “filtro de sais”. O problema (ou desafio) está na dita membrana, cuja tecnologia de material só existe em poucos lugares do globo, tornando seu preço um tanto elevado.
Voltando ao laboratório, a idéia realmente interessante é utilizar energia solar para bombear a água que passa pelo dessalinizador. A aplicação para isso, especialmente no Ceará, é lógica e útil: criar estações de água autônomas em regiões remotas do estado. Para quem não lembra nada de geografia (eu lembro de pouca coisa) o problema da seca não é exatamente falta de água; além de haver uma estação chuvosa razoável, existe boa quantidade de água no subsolo; porém, esta água possui alta salinidade, sendo imprópria para consumo ou irrigação. A menos, é claro, que seja tratada. Já o uso de energia solar, mesmo com fama de energia cara, se justifica em localidades remotas, pois é mais viável que a instalação de uma longa rede elétrica com postes e fios. E, claro, a oferta de Sol de 3° a 4° da linha do Equador é inquestionável.
Mas por que o sistema todo continua caro? Quem pesa na conta é a bendita membrana. Por que é um produto raro, com pouco mercado? Não. Economia de escala não falta. Além de uns malucos que usam osmose reversa com água do mar para abastecer parque aquático e hotel seis estrelas no meio do deserto, aqui no Brasil, especialmente aqui no Ceará, existem grandes clientes das tais membranas: cervejarias. Motivo muito simples: uma boa cerveja se faz com uma boa água – talvez melhor do que a água que você bebe; como a água fornecida pela concessionária não é nada boa, osmose reversa nela! E o alto custo? O preço do equipamento em Dólar mais taxas e taxas de importação é pago por cada um dos milhões de litros vendidos.
Fica então o pensamento: estas cervejarias deveriam investir em pesquisa local, que a longo prazo iria reduzir o custo da osmose reversa; ou eles são burros ou são malvados estrangeiros que não gostam do Brasil e vêm aqui se apropriar do nosso pouco dinheiro. Ou talvez porque há dez anos se pesquisa sem sucesso algo que há dez anos já é feito no resto do mundo (algo como a caravela do Brasil 500 anos que não navegou no ano 2000...). Longo prazo no mercado se refere a meses, anos no máximo; nunca a décadas.
E qual é o problema da pesquisa no Brasil? Sinceramente, não sei... outro dia penso a respeito. Por que hoje fui visitar um laboratório da Universidade federal do Ceará que pesquisa um sistema dessanilizador de água por osmose reversa. Vi uns tubos com umas mangueirinhas.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Crônicas Eleitorais 1

Época de eleições, eis que surge um antigo problema: em quem vou votar? Dos candidatos a prefeito de Fortaleza, não vejo propostas que me afetem diretamente (para o bem ou para o mal). Pelo contrario, fico com a impressão de que temos um povo que quer do governo uma Mãe, dando casa comida e roupa lavada.
As propostas (ou promessas) são sobre saúde e habitação – gratuitas. Eu pago IPTU, taxa de iluminação pública (cobrada no boleto da Coelce, mas repassada a Prefeitura) e ainda tenho que pagar (caro) pelas duas coisas: um plano de saúde privado, que conta com espera de horas nas emergências, dias para marcar uma consulta e médicos, para dizer o mínimo, desmotivados; e pago um financiamento da Caixa de quase 20 anos por um apartamento onde uma porta só abre se a outra estiver fechada.
Por outro lado, algum dia no horário político assisti na TV a história de certa “comunidade”. Há alguns anos eles invadiram um matagal às margens de um rio – que se frise o termo: ‘invadiram’ - dito com naturalidade pela serena voz do narrador. Por muito tempo conviveram com lixo e falta de saneamento básico, além da distância até um posto de saúde; hoje, foram transferidos para um conjunto habitacional da prefeitura, com água, luz, esgoto, rua pavimentada, linha de ônibus, blá blá blá.. Que história feliz, não? Não! Eles invadiram o matagal, ninguém os convidou, muito menos obrigou a morar lá. Por anos, conviveram com o lixo e esgoto que eles mesmos produziram (meu esgoto vai para o sistema da Cagece, por isso pago a conta em dobro; o lixo é recolhido pela Ecofor, que já cobrou taxa cara para isso...). Além do mais, essa comunidade vivia na informalidade, não pagava IPTU, nem outras taxas e impostos. Por escolha própria moravam em barracos mal feitos, sem infra-estrutura, e ainda davam entrevistas dizendo “aqui a gente num temo nada”, mas na época de chuva e alagamentos diziam “nós perdeu tudo!” E repito, por escolha própria, pois não creio que surgiram lá por abiogênese.
Sei que meu discurso não é politicamente correto (posso ser morto por um comunista subversivo - Uhu!); mas também não é de todo egoísta. Apenas quero chegar a um ponto de equilíbrio na justiça dessa questão, mesmo levando em conta as oportunidades de cada grupo. Se eu fosse egoísta, votaria de olhos fechados em Adahil Barreto, pois é o único com propostas inteligentes sobre transito. Afinal, como já disse nesse blog, passo mais de duas horas por dia no carro e, além do estresse e do combustível (que ao contrário da passagem de ônibus não pára de subir de preço) todo ano tenho enorme prejuízo com suspensão e pneus graças à superfície lunar de nossas ruas, sem contar com o inevitável surgimento do som de Timbalada no rodar do meu carrinho ainda alienado à BV financeira.
O único tema certo que poderia nos aproximar de um equilíbrio é o menos citado, o menos discutido, e o menos prometido: Educação Básica. Caberia à prefeitura (e também ao estado, conforme lei) a responsabilidade de garantir Ensino Fundamental de qualidade, sem aprovações automáticas e analfabetismo na “nona série” (no meu tempo ainda não tinha essa...). E não só ensinar essas decorebagens de matemática, história comunista alienada, química e biologia; ensinar cidadania, ética, educação ambiental, convivência com trânsito, oratória, coisas que realmente mudam a qualificação da pessoa – ou alguém acha que o sujeito com nota 10 em física é “melhor” que o que tirou 7,5?
As pessoas carentes, com menos oportunidades merecem, sim, saúde e habitação gratuitas. Mas somente como cidadãos educados eles darão o devido valor a assistência recebida, retribuindo com esmero para um verdadeiro – e não demagógico – crescimento na qualidade de vida dos eleitores da cidade.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Trânsito - Mais um Caos

Em qualquer jornal, em qualquer revista, cedo ou tarde vai aparecer notícia sobre o caos do Trânsito em São Paulo. Bem, não moro lá (graças a Deus!), e nunca em Fortaleza registrou-se 200 km de congestionamento. Não por isso, guiar por aqui é algo prazeroso. Pelo contrário, reservo pelo menos duas horas do meu dia para gastar dentro do carro; e boa parte delas não será em movimento: de pequenas colisões e atropelamentos que poderiam ser evitados, motos ultrapassando pelos cantos mais estreitos e inusitados, imprudências e barbeiragens que lhe dão frio na espinha, lavadores de vidro a cada semáforo, que se repetem de 100 em 100 metros, a paciência se esvai e a raiva e mau humor se apoderam até do mais budista e equilibrado condutor. A perspectiva não é de melhora. Outro dia viajei para Barbalha, uns 560 km de Fortaleza, pela BR-116. E o que mais vi pelo caminho? Caminhões cegonha; filas e filas deles, trazendo aos montes carros que serão financiados em 60 meses, mas que em poucos dias irão abarrotar as ruas e avenidas mal planejadas de nossa cidade. Fora o outdoor de certa concessionária que sempre me dá calafrios: 3032 carros entregues em 2008 (e o número aumenta toda vez que passo lá!) Véspera de eleições, surgem as propostas mais interessantes - e as mais estapafúrdias! (leia notícia completa em http://www.opovo.com.br/opovo/politica/807114.html). Pessoalmente, prefiro torcer pelas interessantes - por mais que as outras me despertem risos. Primeiro, é preciso acabar com a "indústria das multas". Existe sim funcionalidade para fotossensores - principalmente em cruzamentos, onde motoristas teimam em parar sobre a faixa de pedestres, ônibus insistem em furar o sinal vermelho e motoqueiros avançam quando a perpendicular ainda está no amarelo (o encontro dos dois últimos volta e meia mata um deles). Entretanto, os radares de velocidade costumam ser hipócritas no limite que estabelecem, sendo respeitados somente nuns 200 metros mais próximos. Uma fiscalização menos eletrônica e mais humana certamente evitaria ultrapassagens arriscadas, retornos proibidos, conversões não sinalizadas... imprudências geralmente feitas com serenidade e - que se frise - com sobriedade. Além da fiscalização - que busca educar melhor o motorista - deve-se investir em dar ao condutor melhores condições de tráfego: viadutos, túneis, faixas exclusivas para ônibus, motos e bicicletas, construção de passarelas ou túneis para travessia de pedestres; tudo o que possa reduzir paradas desnecessárias, evitar cruzamento de fluxos, aumentar a segurança de todos que transitam, sempre será bem vindo. Por outro lado, impedir o trânsito de pessoas (rodízios, pedágios e proibições) é atitude opressora, repugnante; um atestado de burrice que certamente acabará sendo contornado pelo povo que - esperto e malicioso - sempre dá um jeitinho de solucionar o que lhe desagrada. Altos custos para tudo isso? Com certeza. Mas a cidade está crescendo (pelo menos em número de veículos). Sua economia deve, portanto, acompanhar o crescimento, aumentando assim a arrecadação dos cofres públicos. Este dinheiro (imagino) deverá ser usado para o bem estar do povo, garantido seu direito de ir e vir com segurança. Até lá, o jeito é continuar dirigindo ao som de new age.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O Ser Humano

Jovem torcedor do América-RN foi assassinado com um tiro na cabeça quando retornava para casa, num ônibus fretado pela torcida, após um jogo contra o Ceará realizado no estádio Castelão, em Fortaleza. O autor do disparo, supostamente vindo de um Gol azul, ainda é desconhecido.

Entidades muito representativas das quais não lembro o nome “investigam” o ocorrido; querem descobrir porque um menor de idade (17 anos) viajou para outro estado sem autorização dos pais; querem saber quem fretou o ônibus, quem era responsável pelos passageiros, porque escolheram aquele horário para volta, entre outras importantes questões que não me interessam. Por que para mim, só há um ponto a ser discutido: se não houvesse o disparo do revólver, não haveria ferido. Ainda assim, fico com a impressão de que descobrir a identidade do selvagem, criminoso e homicida que efetuou o disparo é o que menos importa para a sociedade.

Essa inversão de valores me faz lembrar um episódio menos recente; este, felizmente, sem vítimas fatais, quando o apresentador Luciano Huck teve seu Rolex tomado de assalto. Aproveitando seu espaço na mídia, escreveu uma carta de desabafo, repudiando o crime por ele sofrido. Muitos sujeitos que se julgam cultos encheram Huck de críticas, falando até numa suposta ‘justiça social’ que até hoje não fui capaz de compreender. Lembro-me apenas de um outro caso: há umas três semanas, roubaram a bicicleta do Seu Nonato, caseiro do meu sitio. Para mim, trata-se do mesmo caso: Luciano e Seu Nonato foram as vítimas e os bandidos foram bandidos, criminosos, pessoas que agiram fora da lei, tomaram posse de bem alheio para benefício próprio usando-se de ameaça e violência, e permanecem gozando da impunidade.

Voltando ao jovem torcedor, a situação é bastante clara: ele foi a vítima, o atirador é um criminoso. Nada mais há para ser discutido. Fale em rivalidade de torcidas, fale em ofensas trocadas pelo Orkut, qualquer coisa que se fale, nada justifica que um ser humano tire a vida de outro; nenhuma outra questão é importante.

Poderia encerrar aqui este texto mas, apenas por reflexão, gostaria de propor uma pergunta: entre matar e morrer, qual seria sua escolha? Pode usar a “legítima defesa” como justificativa para sua escolha, você teria o amparo da justiça, mas antes pense: se todos escolhessem morrer, não haveria mais homicídios.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

De novo!?

Vem aí a CSS, Contribuição Social para a Saúde. Bonito nome, não? Dá um ar de responsabilidade social ao contribuinte, sem dúvida bem melhor que CPMF, Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira. Até porque essa história de provisória que dura uns dez anos já não cola mais. Olhando de perto, porém, é a mesma coisa, que começa cobrando 0,1% sobre as movimentações financeiras e será destinado 100% à saúde, mas termina cobrando 0,38%, sendo que destes apenas 40% irão “salvar o caos da saúde pública”.
Mas por que um Governo com uma das maiores cargas tributárias do mundo quer criar mais um imposto? Por que um País que, só de janeiro a abril de 2008, arrecadou 221,5 bilhões de Reais, quer uma contribuição que irá somar, anualmente, mais R$ 10 bilhões? E, ainda assim, não resolve o caos da saúde, nem da educação, nem da segurança... Como pode haver tanto dinheiro e fazer tão pouco com ele?
Duas vertentes justificam a péssima gestão administrativa dos nossos governos. A primeira é a incompetência; apenas para ilustrar, sem citar nomes, um Presidente de certa Agência de uma Secretaria do Governo do Estado do Ceará estava preocupado a respeito de como iria levar “sua” apresentação (entre aspas, pois ele não sabe usar o Power Point) a um município vizinho, pois seria trabalhoso levar seu computador inteiro. Como ele nem sabia o que era um pen drive, seus assessores tiveram que gravar a apresentação num CD, e o convenceram que assim daria certo. É um elogio a esse Presidente dizer que lhe faltam conhecimentos em informática. Porém, quem sabe, depois que ele se aposente, alguém um pouco mais antenado nesse mundo pode substituí-lo – a incompetência tem solução.
A segunda vertente é a velha conhecida má vontade, companheira fiel de muitos funcionários públicos. Essa, infelizmente, parece não ter solução. Basta ver que nunca na história desse país houve tantos concursos públicos; mesmo assim a concorrência costuma ser alta, porque há muitas pessoas procurando um emprego fixo, estável, bem remunerado, de carga horária reduzida... enfim, procurando moleza. Não interessa o cargo, nem a função (vocação.. o que é isso mesmo!?), o que interessa mesmo é ganhar para não fazer nada. Ou, quem sabe, fazer uma greve de vez em quando. É de entristecer a quantidade de jovens recém-formados que se julgam incapazes (ou têm preguiça mesmo) de enfrentar o mercado de trabalho, de ingressar e trabalhar numa empresa privada, e recorrem ao concurso público como salvação – é como a bolsa família da classe média.
E assim o Brasil vai, gastando cada vez mais, fazendo cada vez menos... e quanto a nós, brasileiros, o que vamos fazer? Protestar? Sonegar? Ah, não sei... essas coisas de economia são muito chatas. Que tal uma praia no fim de semana?

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Um problema Global

Há muitos anos fala-se dos diversos problemas que o planeta vem enfrentando. Destruição de florestas, poluição de rios e lagos, extinção de espécies e – a bola da vez – aquecimento global. Ativistas, Ongs e até alguns raros políticos tentam avisar ao mundo sobre os riscos do rumo que nós humanos estamos tomando, que podem até num longo prazo nos levar a extinção! Contra eles, estão as “grandes corporações capitalistas” que de maneira impiedosa destroem a natureza visando apenas o lucro.
Bom, de fato, as empresas realmente se interessam no lucro, pois é necessário para sua sobrevivência. É assim que funciona o sistema. Mas, para aqueles que se preocupam com a natureza, eis que surge um momento muito interessante a ser vivido nos próximos anos. Pois o que podemos chamar de “atitude verde” começa a ser lucrativo, portanto alvo das grandes corporações.
Tomemos como exemplo o alumínio: ao contrário de outros materiais, ele pode ser reciclado infinitas vezes sem perder suas propriedades; além disso, no processo de reciclagem consome-se apenas 5% da energia necessária para fabricação do alumínio primário. Citando agora uma corporação, a filial da Gerdau no Ceará utiliza somente sucata como matéria-prima na produção de aço.
Alguns produtos, ao contrário do alumínio e metais em geral, perdem suas propriedades na reciclagem, caso do plástico, da borracha e do papel. Mas isso não significa que não valha à pena reciclá-los, pois a mudança nas propriedades irá apenas mudar a aplicação do material; assim, o que era um pneu pode virar uma sandália, vários potes de sorvete podem fazer uma lata de lixo, e por aí vai... Minha avó já dizia: o lixo de um é o luxo de outro.
Falemos agora da bola da vez, o tão assustador aquecimento global, responsável pelas mais loucas alterações climáticas e fantasiosas teorias de fim do mundo. Acontece que desde a revolução industrial a queima de combustíveis fósseis vem aumentando vertiginosamente a concentração de gás carbônico (CO2) na atmosfera. Tal gás é o principal responsável pelo efeito estufa que, em determinadas proporções, é um efeito bom, pois mantém a Terra na temperatura ideal para vivermos. Se, contudo, a quantidade de CO2 aumentar, aumenta o efeito estufa e a temperatura do planeta, prejudicando o modo como vivemos. Isso tem acontecido porque todo o carbono que há muito tempo estava contido no petróleo em profundas fossas foi trazido à atmosfera pela queima de combustíveis. Como solução (longo prazo, claro) podemos modificar a matriz energética, trocando derivados do petróleo por biocombustíveis (sem falar em recurso eólico, solar, marés...) A idéia é simples: usam-se plantas para retirar energia do Sol e, a partir delas, produzir algum combustível, como etanol ou biodiesel. A quantidade de CO2 emitida na queima desses combustíveis não é maior que a absorvida pelas plantas no processo de fotossíntese, mantendo a quantidade do gás num nível aproximadamente constante. E tal tecnologia, ao contrário do que se diz, não compete com a produção de alimentos, pois existem ainda muitas terras cultiváveis.
Outro “gás malvado” é o metano (CH4, também chamado gás natural). Ativistas chegam a sugerir que todos nos tornemos vegetarianos, pois a criação de gado é responsável por cerca de 17% do metano produzido no mundo. Eu, que não dispenso um bom churrasco, penso de outra forma: considerando que de toda produção de metano apenas 20% vem de extração mineral (feita junto com o petróleo) e que só essa parcela é usada como matriz energética, deveríamos aumentar o aproveitamento desse gás, que é um excelente combustível – mais “limpo” que a gasolina e o carvão mineral. Para quem tem tecnologia de explorá-lo a centenas de metros no fundo do mar, não seria difícil coletar fezes de gado, pôr num biodigestor e usar o gás como combustível. Aliás, o mesmo pode ser feito com a coleta seletiva do lixo urbano, pois os resíduos orgânicos emitem cerca de 26% de todo metano do planeta (os outros 37% vêm de pântanos e plantações de arroz!). Com isso, teríamos uma ampliação do uso do gás natural como combustível, que já é usado na produção de energia elétrica e até em automóveis.
Enfim, existem diversas formas de conter o aquecimento global. E mesmo que se façam sentir seus efeitos, temos capacidade de adaptação e tecnologia para sobreviver a eles. Falta-nos capacidade apenas para resolver os verdadeiros grandes problemas da humanidade, como a fome, a miséria, a AIDS... Esses, porém, parecem ter perdido importância frente ao assustador, catastrófico, armagedônico aquecimento global.

sábado, 19 de abril de 2008

Globalização

Eis aí um tema interessante. Tão na moda, já virou mesmo um clichê; mas ainda assim, o contato com culturas diversas traz novas opiniões, diferentes pontos de vista e um grande aprendizado – até mesmo sobre nossa própria cultura.

Outro domingo tive a oportunidade de ir à praia com um bem humorado sujeito chamado Irwan (leia-se Irruán), um indonésio, engenheiro de telecomunicações, que veio parar em Fortaleza como funcionário da Nokia, uma empresa Finlandesa que presta serviços à Claro, brasileira filiada à mexicana Telmex. Confuso? Não, globalizado.

Primeiramente, ele me reclamou o fato de não ter encontrado por aqui nenhuma mesquita; como bom muçulmano, Irwan (que em nada lembra um árabe) gostaria de um local adequado para praticar suas orações. Infelizmente, não pude ajudá-lo; até onde sei, não há mesmo nenhuma mesquita em Fortaleza. É estranho como no Brasil, um país legalmente laico, sejam tão pouco significativas as religiões não cristãs, e tão esmagadora a presença da Igreja Católica.

Mas isso não foi grande problema. Irwan estava feliz numa praia do Brasil. E, como bom turista, queria provar e comprar de tudo. Chato mesmo foi para mim, que tive de bancar o intérprete. A falta de paciência me fez indagar: o Inglês não é lá uma língua difícil – nem muito cara – de se aprender; em Fortaleza, uma ‘cidade turística’, isso bem poderia ser incentivado, quem sabe bancado pela prefeitura. Mas pra quê? Dinheiro público é para gastar com festa; comunicação entre vendedor e turista deixa com a mímica e o enrolês mesmo; se dá certo assim, então tá bom...

Já cansado de comer camarões e caranguejos (esses deram muito trabalho), nosso ilustre estrangeiro resolveu conversar um pouco sobre os mais diversos assuntos. Por sua formação, acabou falando em eletrônica, e me perguntou por que aqui todos os equipamentos desse tipo são tão caros. Falei que muitos são importados e, mesmo sobre os fabricados aqui, são cobrados impostos elevados. Ele então me perguntou: “e vocês não reclamam?”. Um pouco desconfortável, respondi que sim; mas confessei que não era o bastante. Ele, com um grande sorriso, falou: “deve ser porque vocês têm carnaval e todas essas lindas praias... não podem mesmo reclamar de nada!” Não pude esconder minha frustração diante da triste verdade; mas, como eu já disse, globalização traz novas opiniões, diferentes pontos de vista e um grande aprendizado – até mesmo sobre nossa própria cultura.

O airbag

Assistindo a um bem humorado programa sobre automóveis numa TV internacional (Top Gear, da BBC), deparei-me com uma reportagem interessante, que me deu bastante orgulho: falava sobre o “menor Volkswagen que você pode comprar” (na Inglaterra, claro), nada menos que o VW Fox, desenvolvido e fabricado aqui, em nosso querido Brasil.

Durante a reportagem, para a minha frustração, percebi algumas diferenças: de série, o Fox vai para a Inglaterra com motor 1.2 a gasolina, trio elétrico, limpador e desembaçador traseiro, condicionador de ar, direção hidráulica e airbag. Para agravar, era tido como um carro simples, prático, voltado para o público mais jovem, acima de tudo, barato. Tudo bem, vamos encarar a realidade: o poder aquisitivo do público jovem daqui não é o mesmo de lá. Melhor nos recolhermos a nossa inferioridade, e deixar de lado esses opcionais bobos (que lá são de série), como trio elétrico, direção hidráulica... enfim, um 1.0 basicão anda (quase) do mesmo jeito.

Há um item, entretanto, que realmente me preocupa: o airbag. Comprovadamente, ele aumenta – e muito – as chances de sair ileso (ou pelo menos vivo) de uma colisão. Será que apenas pela nossa "escassez de riquezas" devemos morrer ao sofrer um acidente? Por que essas bolsas infláveis não são equipamentos obrigatórios – como são os cintos de segurança?

Uma resposta quase imediata seria criar uma lei que obrigasse os fabricantes a instalar tal equipamento em todos os veículos produzidos, a exemplo dos cintos de segurança; houve o tempo que o de três pontos não era obrigatório, assim como usá-lo ou não era opção de quem estivesse no carro. Mas não é assim tão simples. A situação econômica dos fabricantes (como a do país inteiro) não é lá das melhores; sua justificativa é plausível: a instalação desse caro equipamento iria encarecer a produção, e esse preço seria repassado ao consumidor – como é nos veículos que oferecem esse opcional. E justamente falando em opcionais, para os consumidores que não dispõem de muito dinheiro, o senso comum é de investir num item de conveniência como ar-condicionado, que terá uso diário, não em um item de segurança que, pelo menos se espera, nunca será usado. Chegamos assim a um impasse onde, como sempre, o povo é quem paga o pato.

Mas talvez não. A resposta é mesmo uma lei; afinal, elas existem para o benefício do povo (ora, pelo menos em teoria...). Apenas o "obrigar" está incorreto; incentivar é bem melhor. Basta ver o seguinte: o que ajuda a tornar os carros no Brasil tão caros? Os impostos. Bem, não pretendo sugerir aqui uma reforma tributária – seria muita audácia. Mas se houvesse para os carros equipados com airbag uma isenção, ou pelo menos um desconto nos impostos, seria crescente o número de veículos dotados desse equipamento; e, portanto, mais seguros. Quanto ao dinheiro que o governo deixaria de arrecadar, acredite: não seria metade do que é gasto nos serviços médicos e de emergência com as vitimas dos acidentes envolvendo nossos 1.0 "básicos".

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Talentos

Interessante como as pessoas nascem com talentos; características e vocações muitas vezes únicas que as marcarão por toda a vida, não raro definindo a carreira do dito cujo.

Um exemplo claro é a beleza. Talento inquestionável, é facilmente reconhecido pela sociedade. Geralmente de nascença (de preferência no sul do país) a beleza necessita apenas ser mantida ou aperfeiçoada durante a vida da pessoa. Nada além de uma vida saudável, boa alimentação e exercícios físicos (talvez um pouco de silicone...). E claro, como foi dito, esta característica marcante define a carreira do seu portador: modelo, atriz, apresentadora de TV, cantora, escritora, esposa de ricaço, ex-BBB, dentre tantas outras portas abertas para quem nasceu sob as bênçãos da deusa Vênus.

Outro talento interessante, geralmente oriundo de periferias pobres, é o de jogar futebol. Este sim pode ser bastante aprimorado, tendo início o longo preparo ainda na infância, para então ingressar nas categorias de base em pequenos clubes, seguidos por campeonatos mais expressivos e a posterior venda para um time europeu. Tamanha é a importância deste talento para a sociedade que vários destes atletas semi-analfabetos ganham salários astronômicos que a maioria de nós não irá receber em 30 anos de trabalho.

Um talento geograficamente mais difuso, porém mais comum do que se imagina, é a inteligência. Não me refiro a gostar de matemática e resolver contas com velocidade; isso é coisa pra calculadora de R$1,99. Algumas características da inteligência são a facilidade de aprendizado, rapidez de raciocínio lógico, aguçada visão espacial, habilidade manual e artesanal, sensibilidade artística, ouvido musical, dentre diversas outras. Como qualquer talento, este deve ser lapidado; existem raras escolas, muitas com critérios rigorosos de seleção, que aprimoram com muito trabalho algumas das qualidades referidas.

Para descrever melhor esse talento, prefiro deixar o texto mais pessoal, pois é sempre gostoso lembrar dos tempos de colégio. Como um bom aluno nerd, sempre participei – e com mérito – das olimpíadas. Não as de futebol ou natação, mas de matemática, física, enfim; e conheci garotos bem mais brilhantes que eu. Um deles foi várias vezes campeão em matemática, chegou a cursar um semestre no IME (para quem nunca ouviu falar, é uma universidade com vestibular bem difícil), mas decidiu que não era o que ele queria da vida. Hoje cursa psicologia e artes cênicas, inclusive se apresenta em algumas peças aqui na capital cearense. Se ele é feliz? Espero que sim. Se é rico ou famoso? Claro que não! Quem daria importância a um ator inteligente, culto, que lê livros, sabe muita matemática e nunca esteve no Big Brother ou na Malhação?

Voltando aos tempos do colégio – só explicando, um colégio particular, desses com turma especial para os alunos mais brilhantes. O que tinha de especial na turma? Nada muito interessante, apenas uma alienação pelo vestibular e um certo desprezo a coisas supérfluas, como cultura, música, vida social, cidadania... mas isso é conversa pra outro dia. Voltando ao texto, um outro sujeito prodígio que conheci por lá, desses com boas notas e resultados em olimpíadas, hoje é graduado em física. Ao terminar o curso, ele recebeu oferta de bolsa para mestrado e até doutorado no exterior. Não sei se foi por sua “inteligência”, ou só por bom senso mesmo, ele acabou fazendo vestibular para Direito. Diz que quando se formar – em Direito – vai fazer concurso público para algum emprego onde se ganha muito e trabalha pouco, o que para ele será bastante fácil.

Essas belas histórias – qualquer uma poderia aparecer num quadro no programa do Faustão – acabam me fazendo lembrar outra qualidade dos inteligentes, uma característica possivelmente nata: a frustração. Assim como uma modelo olha-se no espelho e afirma convicta: “eu sou bonita”, toda pessoa consegue, cedo ou tarde, reconhecer suas qualidades. O reconhecimento vindo dos outros é que nem sempre agrada: as tantas portas não estão abertas, nem são pagos salários astronômicos para quem teve a sina de nascer inteligente.